Sibélia Zanon
Faz algumas
semanas dirigi 30 km, por uma hora, à noite, para ir a um curso que começaria
naquela terça. Quando cheguei à recepção do instituto, 15 minutos antes do
início, a recepcionista disse que o curso só começaria na semana seguinte. Ela
desfilou uma lista de justificativas para o fato de não ter me avisado em tempo
e, assim que a lista acabou, eu fui embora.
Fui embora com a
mania daqueles que escrevem e querem editar o texto sempre uma vez mais.
Naquela ocasião, eu queria editar o episódio. Na minha ficção, a recepcionista
pediria desculpas e me convidaria para conhecer o instituto e para tomar uma
água.
Mas a vida é real
e nem sempre admite edições. Na vida real, aprendemos desde pequenos que é feio
errar, que devemos ganhar e acertar e que o erro é sinônimo de fracasso. O erro
raramente é apoiado como parte de um processo que poderá levar ao acerto.
Assim, pedir desculpas significa assumir uma responsabilidade ou um erro e isso
pode ter um preço. Mas será que temos pensado no preço de não assumi-los? Já
escutei adultos falando para crianças que desculpa e obrigada são palavras mágicas.
Eu acho que eles têm razão.
Basta imaginar o
que é dirigir um carro sem amortecedor e depois dirigir outro com. Pedir
desculpas funciona como um amortecedor das relações, algo que nos torna mais
humanos, fortes por assumirmos nossa vulnerabilidade, mais aconchegantes e
acolhedores.
E qual o preço de
sermos aconchegantes e acolhedores? Qual o preço de assumirmos que somos
pessoas em processo de aprendizagem que podem falhar? Não importa, porque
certamente mais alto é o preço de se sentir permanentemente impotente, incapaz
e sem a coragem de assumir quem se é.
Talvez
posicionar-se perante o outro, aceitando os próprios acertos e erros, seja um preço
justo a pagar para tornar-se uma pessoa mais potente e para que as crianças
finalmente entendam, por exemplos práticos e não apenas no discurso, o quanto
as palavras podem ser mágicas.
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