Sibélia Zanon
Outro dia escutei no rádio comentários a respeito de uma pesquisa sobre
o ato de presentear. A pesquisa constatava que dar presentes gera alegria mais
duradoura do que comprar coisas para si próprio. Achei interessante. Presentear
abrange certos rituais: pensar sobre o outro, sobre suas características e seus
gostos, e mapear as coisas que podem lhe ser úteis e trazer alegria.
As festas de final de ano parecem vir carregadas de uma certa pressão,
tirando por vezes o valor dos rituais ligados ao presentear. No entanto, a
vontade de dar algo, alegrando os outros justamente nesta época do ano parece
ter uma raiz significativa. Segundo a escritora Roselis von Sass, já antes do
nascimento de Jesus, diversos povos como sumerianos, incas e romanos realizavam
suas festividades.
A alegria por poder conviver com as pessoas que se ama, a gratidão pelo fechamento
de mais um ciclo e por outro que se abre ou mesmo as fitas que descem do céu unindo a todos refletem a riqueza
inspiradora que o mês de dezembro traz consigo.
Na esfera do presentear, o que cada um tem para dar? Além dos mais
diversos bens materiais concretos, há os bens mais abstratos, como perdão,
compreensão, respeito, bondade, generosidade, amor, harmonia... Há quem diga
que o mais importante na esfera do dar não está nos bens materiais, até porque
não seria justo que uma pessoa de poucas posses não pudesse ofertar algo de si.
“A mais
importante esfera do dar, no entanto, não é a das coisas materiais, ela está no
domínio especificamente humano. O que uma pessoa dá a outra? Dá de si mesma, o
bem mais precioso que tem, dá sua vida. Isso não significa necessariamente que
sacrifique sua vida pelo outro, mas que lhe dá aquilo que está vivo nele; dá
sua alegria, seu interesse, sua compreensão, seu conhecimento, seu humor, sua
tristeza – todas as expressões e manifestações do que é vivo nele. Nessa dação
da sua vida, enriquece o outro elevando seu próprio sentimento de vitalidade.
Não dá para receber: a dação é, em si, uma suprema alegria.”
Erich Fromm
A arte de amar
A possibilidade cotidiana de dar carrega consigo a ideia de presença e
prontidão: como ser bom para a vida e para o outro no momento presente? Como desafiar-se
a presentear com a própria maneira de ser, ou ainda, transformar-se no presente
para o outro? Talvez essa seja uma forma profunda de presentear e, por vezes
difícil, porque implica em deixar o egoísmo de lado, em autodomínio para não
machucar o outro, em lapidação e polimento constantes da própria personalidade.
Implica ainda reconhecer-se de alguma forma preenchido ou abastecido do
que possa ser essencial: valores, cultivo de bons pensamentos, boa
administração de expectativas e insatisfações... Afinal,
uma pessoa insatisfeita pode não ter muito a dar.
Assim, o presentear passa a ser também um reflexo do sentir-se grato,
sentir-se rico pela vida. Quem se sente enriquecido consegue doar
desinteressadamente porque a sua riqueza transborda. E torna-se possível também
aliviar a pressão das coisas que não importam, como a pseudonecessidade de dar presentes
caros ou de atentar para datas que eventualmente foram eleitas pelo comércio e
nem tanto pelo coração.
"Agradecer
é compartilhar ou expressar alegria pelo bem já recebido. É doar sem o mínimo
desejo de receber em troca.”
Joel S. Goldsmith
Praticando a Presença
Praticando a Presença
“Com vossa maneira de ser, deveis dar ao
vosso próximo! Não, por acaso, com dinheiro ou bens. Pois assim os pobres
ficariam privados da possibilidade de dar. E nesse modo de ser, nesse “dar-se”
no convívio com o próximo, na consideração, no respeito que vós lhe ofereceis
espontaneamente, está o “amar” de que nos fala Jesus, está também o auxílio que
prestais ao vosso próximo, porque nisso ele se torna capaz de modificar-se por
si mesmo ou prosseguir em direção ao alto, porque nisso ele pode fortalecer-se.”