quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Sentimentos domesticados


Sibélia Zanon

Como quem caminha por um túnel sombrio, deparamos vez por outra com conceitos obscuros e conflitantes e, por estranho que pareça, somos aconselhados a não questioná-los.
O dia das mães, o dia dos pais, entre outros, invadem o imaginário coletivo com o marketing das famílias indiscutivelmente amorosas. Muitos se sentem culpados por não usufruírem da mesma cordialidade que a propaganda propõe ou por questionarem as medidas do amor.

Existe amor compulsório? Admiração compulsória? Ou esse 
tipo de sentimento é norteado, no interior de cada um, por águas mais profundas?
“Como pode uma criança respeitar o pai que se degrada no vício da bebida ou uma mãe que torna todas as horas amargas ao pai e a todos no lar, em virtude dos seus caprichos, pelo seu temperamento desenfreado, por falta de autocontrole e por tantos outros modos que impossibilitam inteiramente o surgir de uma atmosfera serena! Pode uma criança honrar os pais quando os ouve insultar-se mutuamente de forma pesada, quando enganam um ao outro ou quando chegam até a agredir-se?”, questiona Abdruschin em Os Dez Mandamentos e o Pai Nosso.
Sofremos, muitas vezes, em prisões construídas pela pobreza das interpretações, pelos conceitos formatados, que não admitem questionamentos e dúvidas.
Em sua exposição sobre o mandamento Honrarás pai e mãe!, Abdruschin ainda escreve: “O mandamento impõe deveres incondicionais aos pais para que conservem sempre completa consciência de sua elevada missão, e com isso também mantenham sempre diante dos olhos a responsabilidade que nela se encontra”. O mandamento não seria, então, dirigido exclusivamente aos filhos, mas sobretudo aos pais.

A admiração, o respeito e o amor não são objetos, que podem ser vendidos pelo marketing ou inseridos, por meio de conceitos obscuros, no interior de pais e filhos. São, na realidade, sentimentos genuínos, com caráter transformador, que não se deixam domesticar tão facilmente. 


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