Sibélia Zanon
Conectar-se
com o presente parece tarefa desafiadora. Frequentemente os nossos pensamentos
vagam por situações ou lugares diferentes daqueles em que estamos. No entanto,
quando conseguimos nos concentrar no momento presente, qualquer que seja,
ganhamos intensidade, ganhamos experiências mais significativas de vida. Você
já parou hoje para apreciar o momento presente?
Tocar o agora
Eu vinha caminhando com
os pensamentos em sombras. Olhava para baixo. Foi quando bati a cabeça em um
fruto que pendia do frondoso abacateiro. Olhei para cima e o céu estava azul. A
árvore carregada me conectou com o momento presente. Fez lembrar que a vida
frutifica e brinca, mesmo quando dói.
A vida nos chama à presença de
diversas formas. Quando estamos presentes, somos capazes de sentir melhor o
todo e o outro, de perceber mais apuradamente a conexão entre as coisas, de nos
lembrar da própria respiração e da postura corporal, de buscar o alinhamento
interno-externo: aquilo que somos por dentro refletindo com coerência do lado
de fora.
Concentrar-se no momento pode
parecer tarefa difícil em tempos de grandes preocupações ou grandes distrações
e, sobretudo, em tempos de mentes lotadas. Quando a mente está embriagada de
pensamentos dispersos e diversos, não há espaço para a atenção e corre-se o
risco de perder o presente, a única vida real.
“Cada hora do presente tem de se tornar um verdadeiro
vivenciar para o ser humano! Tanto o sofrimento, como a alegria. Deve ele estar
aberto e assim alerta para o
presente, com todo seu meditar e pensar, e com a intuição. Somente assim terá lucro da existência terrena, lucro esse
que aí lhe está previsto”, escreve Abdruschin em sua obra Na Luz da Verdade.
Refletir sobre isso pode levar a algumas
interrogações: em que ocasiões nos sentimos realmente disponíveis para o
momento? Com que frequência conseguimos acalmar a mente para receber outras
percepções? Como é o nosso estado de escuta: escuta de si mesmo, do outro e da
vida?
“Passo por um ipê florido. A beleza é tão grande que fico
ali parado, olhando sua copa contra o azul. E imagino que os outros, encerrados
em suas bolhas metálicas rodantes, tentando ultrapassar as outras bolhas
metálicas à sua frente, devem imaginar que sou um vagabundo que não tem o que
fazer”, escreve o educador Rubem Alves, lembrando que, quando presentes, somos
impactados e também geramos impacto. Aquilo que enxergamos passa a ter
significado. Por outro lado, as coisas que não notamos ficam nubladas na nossa
existência, mesmo que seja um ipê florido gritando cores em nome da beleza.
“Nossa percepção de realidade está relacionada bem de
perto com o foco da nossa atenção. Somente aquilo que prestamos atenção nos
parece real, enquanto que aquilo que ignoramos, não importa quão importante
possa ser, parece desvanecer em insignificância”, escreve Alan Wallace,
professor americano.
Em que costumamos investir nossa
energia? Em múltiplas tarefas que pulam alternadamente, assim como os canais da
televisão? Em um problema do passado? Na ansiedade acerca de algo que só se
resolverá depois? Quando nos aturdimos demasiadamente com o passado ou o
futuro, fechamo-nos nas próprias angústias e perdemos chances de tocar o agora.
Não vemos a cor do céu porque a cortina de pensamentos nubla o presente e
colabora para que nosso próprio corpo se comporte como uma bomba-relógio.
É verdade que no presente pode haver dor e o objetivo não
é ignorá-la, mas buscar não ampliá-la para além de seu tempo, sobrecarregando a
mente e o coração com angústias aumentadas. E como fazer, então, para cultivar
a presença e empregar a própria energia no essencial? Além dos chamados de um
abacateiro ou de um ipê, também precisamos nos esforçar para colocarmos os pés
do corpo e da alma no agora. Uma forma de buscar isso pode ser por meio do
exercício da apreciação.
O especialista em nutrição, Flávio Passos, sugere:
“Saboreie a sua alegria, saboreie as suas dores. Sinta, não fuja daquilo que
você precisa aprender. Saborear o desconforto é a própria alquimia que
transforma chumbo em ouro”. E complementa: “Quanto mais detalhada for a sua
capacidade de sentir a apreciação, o sabor da vida, mais presente você se
torna. Isso é meditação. Então, ao invés de sugerir que você medite mais, eu
sugiro que você aprecie mais a vida”.
Quando paramos para apreciar um
momento, seja ele qual for, voltamos a atenção para o presente. Temos, assim,
chance de escutar, sentir e ver coisas novas. Ver não apenas com os olhos, mas
também com a amplitude das capacidades perceptivas que dormem dentro de cada um
de nós. Por vezes, a reconexão com o presente faz lembrar que, quando olhamos
demais para a dor, esquecemos que a sombra só existe porque há luz. E essa luz
merece toda a atenção.
Muito bom!
ResponderExcluirENFRENTAR AQUILO QA É, E CRESCER EM AMOR..ESSA É META...
ResponderExcluirLindo texto....Obrigado tocou minha alma...
ResponderExcluirPaulo Meirelles.
Sapucaia do Sul/RS
Grato, Sibélia, por esse texto interessante sobre o ser humano dar atenção ao momento presente. Assimilá-lo. Eu estava precisando dessa sacudida. Bom trabalho.
ResponderExcluirOlá, Sibélia, por esse texto sobre a valioso texto sobre vivenciar o momento presente. Eu mesmo estava precisando dessa sacudida. Muito obrigado. Bom trabalho
ResponderExcluirEsta escritora tem uma profundidade em seus estritos que me leva a refletir com afinco para poder captar a essência de suas palavras. Gostei e muito.
ResponderExcluirLindo texto!
ResponderExcluirMuito bom ter o retorno de todos vocês! Agradecemos!!
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