Sibélia Zanon
Olhava da janela do avião frágeis montinhos de terra que se pronunciavam
aqui e ali, como a provocar o mar.
Algumas ilhas eram um pouco maiores e denunciavam penhascos, guarnecidos
de casas brancas enfileiradas, que se debruçavam na água, dando a entender que
homem e mar dançam por ali uma melodia perigosa e sedutora.
Mediante a força da paisagem e do vento, menor do que um passageiro num
avião, eu me sentia mais como um pernilongo agarrado a um ultraleve.
Logo mais, com os pés já no chão, o montinho de terra parecia uma ilha
grande o suficiente para abrigar todos aqueles turistas, ilha que eu não
conseguia explorar nem em sonho à pé.
A sensação dos contrastes
foi semelhante ao subirmos
de jipe uma montanha
em
Minas Gerais. Havia patamares diferentes, em que
podíamos ter cada vez
maior
visibilidade da
paisagem no entorno.
Chegou a ser uma surpresa, quando, ao
conquistar o topo, conseguimos ter uma noção
de tudo o que avizinhava aquele
morro: natureza, pequenas casas, cidades maiores ao longe e tanto mais.
Paisagens impossíveis de se imaginar antes de começar a subida.
Viver é estar num avião ou numa montanha o tempo todo. Por alguns
momentos estamos vendo uma situação lá do topo, com abrangência. Quando o
assunto muda, voltamos para a base da montanha e não conhecemos bem a paisagem
por completo, tendo uma visão fragmentada.
No caminho, encontramos pessoas que também estão experimentando
patamares diferentes nas montanhas.
Nem sempre conseguimos julgar acertadamente de qual patamar da montanha
ou de que coordenada, se leste ou sul, o interlocutor está falando. Pode ser
que ele já tenha passado por esse mirante em que estou e tenha alcançado o
topo, enxergando muito mais e tendo, portanto, um bocado de paciência para me
escutar contar sobre a paisagem aqui de baixo. Ou pode ser também que ele ainda
não conheça a paisagem que estou vendo e
eu é que precisarei de paciência para fazê-lo entender por que vejo algo a
mais.
E como nem tudo na vida se trata de coordenadas geográficas, na maioria das
vezes não poderei decifrar se ele está no topo ou na base da montanha, se ele
já viu a casinha bucólica que estou vendo agora em detalhes ou se ainda não
alcançou esse mirante. Esse é o charme e o desafio do passeio. Não se pode
julgar e descartar facilmente a visão do outro. A lente com a qual ele
experimenta o mundo é só dele e depende da viagem particular que ele está
fazendo ou já fez ao longo da vida. Isso demanda um grande respeito e paciência
ao interagir. E mais que tudo, humildade para reconhecer que existem outros
mirantes e tentar ver a paisagem de um patamar novo e desconhecido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário