Sibélia Zanon
Em 1972, a tripulação da missão Apollo 17, a caminho da Lua, tirou uma
foto da Terra. A imagem, amplamente divulgada, foi a primeira fotografia nítida
do planeta iluminado. Astronautas costumam dizer que ver a Terra, pelo lado de
fora, é algo de grande impacto. Com suas cores e seu constante movimento, a
Terra é um convite à introspecção quando vista do espaço. Dificilmente alguém
que vive essa experiência volta para casa da mesma maneira, pois o cenário, de
uma beleza arrebatadora, intensifica a capacidade de apreciar.
Apreciar... A Terra, organismo vivo e frágil, reúne as condições exatas
para abrigar a vida humana. Maior proximidade ou distância do Sol fariam o seu
clima escaldante ou congelante. O seu campo magnético trabalha como um escudo
protetor contra as irradiações agressivas do espaço e do Sol. Em proporção
exata, a atmosfera da Terra contém os gases essenciais à vida e equilibra a
temperatura, criando uma variação climática pequena entre o dia e a noite. A
água e o solo aqui existentes têm as características necessárias para
possibilitar a produção de alimentos. Como não apreciar uma obra tão perfeita,
majestosa e delicada, que acolhe a vida como um grande útero?
A natureza inteira sustenta-se na exatidão. As leis da física, da
química, da biologia são leis da natureza que demonstram sua coerência nos
aspectos mais cotidianos. É como se essas leis regulassem o coração que bombeia
vida para dentro desse imenso organismo que nos protege.
“Se plantarmos milho, só podemos colher milho, jamais outra coisa, pois
a perfeição das leis da natureza não o permite. Quando se fala em lei da
gravidade, por exemplo, todos sabem seu significado, mesmo que não conheçam seu
enunciado na forma como é apresentada por quem conhece Física. Todos têm
consciência de que se soltarmos qualquer objeto no ar, ele cairá ao solo”, escreve
Fernando José Marques no livro Reflexões sobre Temas Bíblicos. As leis
da natureza não admitem exceções.
E se trouxermos essas leis para as nossas vidas? “Tudo o que nos permite viver, o ar, a água, nossos alimentos, os aparelhos e máquinas que nos dão conforto, enfim tudo é obtido com base em leis da natureza que o ser humano vem ‘descobrindo’ ao longo dos milênios”, acrescenta Fernando José Marques. Será
que a coerência que testemunhamos ao redor não estaria ainda mais perto,
perpassando todo o nosso caminhar e os frutos que saboreamos? Como imaginar a
vida humana caminhando ao acaso, se tudo o que nos cerca é testemunho de máxima
exatidão e lógica?
Talvez não seja necessário ir até o espaço para confirmar a perfeição arrebatadora,
mas abrir uma brecha para observar o que nos cerca. Na medida em que
constatamos a coerência das leis naturais, que obrigam à regularidade dos fenômenos,
além de apreciar, passamos a confiar. Confiar na condução coerente que permeia
as engrenagens da vida.
Quando isso se dá, em vez de adotarmos uma postura defensiva em relação
ao que nos acontece, buscamos entender a conjuntura do presente e vivenciar a
situação, podendo avançar desse estágio para um próximo. Confiar numa força
maior, que nos protege do acaso, é parte do processo incentivador das coisas
boas e poderosas, fonte de paz e de fortalecimento, um convite para vivenciarmos
a grandiosidade do agora, seja no espaço ou aqui mesmo, neste chão que temos
como lar.
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