Daniela Schmitz Wortmeyer
Formigas
atarefadas carregando pedaços de folhas e outras preciosidades para dentro do
ninho, sempre com pressa, sem parar, olhando para frente e para baixo, sem
consciência do imenso céu sobre suas cabeças minúsculas... Quando a jornada finda, elas finalmente se
estiram para descansar os corpos esgotados, ou procuram alguma diversão para
livrar a mente das preocupações cotidianas... E então recomeçam a carregar suas
folhinhas, sempre com pressa, ansiando pela chegada do próximo fim de semana,
quando enfim poderão descansar e se divertir...
Será que é
assim que seríamos percebidos por um visitante do espaço, a nos observar do
alto da atmosfera terrestre? Como formigas que caminham de um lado para outro,
sem tempo de olhar para os lados, para cima ou para a linha do horizonte?
Principalmente
nas cidades, mas não apenas, entramos em um ritmo tão acelerado e mecânico de
vida, que tendemos a focar nossa visão quase sempre em um plano material,
imediato, pensando somente nos próximos itens da agenda a serem cumpridos. Nas
raras pausas dessa rotina, temos por vezes outra agenda a ser cumprida, a dos
compromissos pessoais e sociais, que da mesma forma não nos permitem parar...
Por mais
estimulantes ou bem-intencionadas que possam ser essas atividades, tem-se como resultado
final um instrumento ininterruptamente tocado, sem nenhuma pausa, sem
silêncios. A obra produzida é uma composição imperfeita, desarmoniosa, que não
pode produzir de fato a elevação do espírito. Pois não há espaço para
assimilação do vivenciado, para a construção de sentido, gerando perturbação e
confusão.
Assim como
ocorre na música, cujo ritmo é ditado pelos silêncios, em nossa existência
também necessitamos de paradas. O intervalo entre uma respiração e outra, a
ausência de movimento corporal, o relaxamento da mente, proporcionam abertura
para intuições mais elevadas.
No livro Os Dez Mandamentos e o Pai Nosso, Abdruschin explica o significado do Terceiro Mandamento: “Santificarás o dia de descanso! Tu! Está claramente implícito nas
palavras que tu deverás tornar solene
o dia de descanso, tu deverás santificá-lo
para ti! Dia de descanso é hora de descanso; portanto, quando repousas do
trabalho que teu caminho na Terra te impõe. Não consagras, porém, a hora de
descanso, o dia de repouso, se só queres cuidar de teu corpo. Também não o
fazes se apenas procuras divertimento em jogos, bebidas ou na dança. A hora de
descanso deverá levar-te à meditação interior, fazer com que reflitas sobre tua
existência terrena de até então, principalmente, porém, sobre os dias de
trabalho da semana finda, tirando
disso conclusões proveitosas para o teu futuro.”
Desse modo, o
dia de descanso pode ser uma sagrada hora de reflexão, de busca de uma visão
abrangente da vida, para além do imediatismo das preocupações corriqueiras. Um
momento de interiorização, em que naturalmente entramos em contato com nossos
valores mais profundos, analisando o que pode ser aperfeiçoado na caminhada
diária.
“Cada dia de
descanso tornar-se-á assim um marco no teu caminho, que, agindo
retroativamente, dará também a teus dias de atividade material aquele valor que devem ter para o
amadurecimento da tua alma. Então não terão sido vividos em vão e progredirás
constantemente. Santificar quer dizer não desperdiçar.”, opina novamente
Abdruschin.
Se tivéssemos
real noção da importância desses momentos para nossa saúde psicológica e
espiritual, eles estariam na lista dos compromissos prioritários da semana, como
uma reunião inadiável conosco mesmos. Pois de que adianta andar e andar, fazer
e fazer, cumprir e cumprir, se não provemos também alimento para nossa
essência, urdindo um sentido para a existência?
Porém,
Abdruschin adverte: “Ninguém santifica uma hora de descanso com visitas às
igrejas, se concomitantemente não se dispuser a refletir em seu tempo de
repouso sobre aquilo que lá ouviu, a fim de assimilá-lo corretamente e viver de
acordo. O sacerdote não poderá santificar-te o teu dia se tu próprio não o
fizeres, por vontade própria. Pondera sempre se o sentido verdadeiro das
palavras de Deus concorda integralmente com teu modo de agir.”
O caráter
sagrado de uma pausa é dado pela disposição interior de cada um, mais do que
pelos aspectos externos. Cada pessoa pode encontrar sua própria maneira de
vivenciar momentos de introspecção, em que resolutamente coloca de lado os
assuntos cotidianos, procurando elevar seus pensamentos. Abdruschin sugere: “Santificai,
por isso, o dia de descanso! Seja em vossa casa ou, melhor ainda, em contato
com a natureza, que vos auxilia a despertar no pensar e no intuir!”
Se nos
permitíssemos apenas parar para contemplar o céu azul, a chuva que cai, o
balançar das folhas das árvores, para procurar a lua e as estrelas ao final do
dia... Quantas profundas intuições poderiam ser despertadas por esse simples
gesto! Talvez as formigas começassem a sonhar com tantos e maravilhosos e imensuráveis
mundos, que descobririam – quem sabe – um sentido sagrado para seus passinhos
diários.